Vinhos da Borgonha: a escalada de preços tem limite?
Vinhos da Borgonha: a escalada de preços tem limite?
12/12/2023

Por Bruno Vianna, MW Student               .



Enquanto assistimos a um excesso de oferta nas AOPs regionais de Bordeaux, com consequente queda de preços, que motivou a colocação em marcha do programa de €67 milhões para financiar a erradicação 9.500ha (9% das vinhas), a Borgonha caminha em sentido contrário, com demanda maior que a oferta, estoques esvaziados e preços que sobem a níveis nunca vistos.

Romain Iltis, melhor sommelier da França e chef sommelier dos restaurantes do grupo suíço Lalique, em matéria publicada em La Revue du Vin de France, pede um basta na escalada de preços, afirmando que vai ficando impraticável acomodar a Borgonha nas cartas de vinhos. Como exemplo cita um Criots-Bâtard-Montrachet de Hubert Lamy, que era comprado por €1.000 há um ano e agora está custando ao restaurante €2.000. Mas, além dos Grands Crus, a escalada também ocorre nos vinhos mais simples, como o Santenay 1er Cru Les Gravières de Jean-Marc Vincent, comprado por €26,50 há um ano e agora oferecido a €49. E a alta que começou na Côte d’Or agora atinge a Côte Chalonnaise e o Mâconnais. Como consequência, alerta que os grandes vinhos serão direcionados à exportação, os franceses beberão Borgonhas apenas nas grandes ocasiões e a nova geração crescerá sem conhecer esses vinhos, buscando alternativas em outras regiões e países.

A Borgonha tem apenas 28% da área de vinhedos de Bordeaux (30.000ha contra 108.000ha) e tem uma pulverização muito maior das propriedades, com tamanho médio de 8,2ha por domaine, 2,5 vezes menor que em Bordeaux. Como consequência, os volumes produzidos por rótulo são muito menores, tornando difícil atender à demanda, tendo em vista que o número de colecionadores de Borgonha tem aumentado constantemente ao redor do mundo.

A alta de preços vem ocorrendo na Borgonha há anos e ficou mais agravada pela safra 2021, que sofreu fortes geadas de abril e junho, além das doenças fúngicas provocadas pelas chuvas de setembro. Alguns setores borgonheses sofreram perdas de até 95% e a região como um todo perdeu de 30 a 50%, colhendo a menor safra dos últimos tempos. Foi necessário muito trabalho de mesa de seleção para descartar uvas com botrytis, maturação incompleta e atacadas por míldio. Com a quebra, os estoques, que normalmente são de dois anos, caíram para 14 meses. Já a safra 2022 foi abundante, com 1,75 milhões de hL, reconstituindo parcialmente os estoques. Espera-se uma safra 2023 também generosa, que venha recompor o que falta e trazer mais equilíbrio ao mercado.

As exportações representam metade do volume produzido na Borgonha. No primeiro semestre de 2023, caíram 7% em volume (contra 8,3% dos vinhos de AOP franceses), mas aumentaram 5,5% em valor (contra 3,5%), mostrando mais vigor que nas demais regiões francesas.

Dia 19 de novembro de 2023, terceiro domingo de novembro, foi dia do aguardado leilão beneficente do Hospices de Beaune, que já dá uma ideia da dinâmica comercial da safra 2023. Foram vendidas 753 barricas, sendo 574 de tintos e 179 de brancos, mostrando um alto rendimento dos 60ha de vinhas cuidadosamente manejados por Ludivine Griveau, com volume apenas 4% abaixo do obtido em 2022. Incluíu 51 cuvées, entre as categorias village, 1er cru e grand cru. No ano passado, o valor médio por barrica atingiu o recorde de €36mil, mas esse ano os compradores mostraram entusiasmo mais comedido, pagando em média €31mil, uma queda de 14%, mas ainda assim proporcionando renda total de €23,3 milhões, a segunda maior da história dos leilões do Hospices de Beaune, revertida a favor de duas entidades de pesquisa para aumento da expectativa de vida e saúde. No Brasil, a importadora Anima Vinum, que tem grande foco na Borgonha, vem participando dos leilões desde 2015 e possui um estoque de diferentes safras e apelações à venda.

A empresa francesa iDealwine, líder de leilões online e que oferece loja virtual internacional, registra que o preço médio dos Borgonhas subiu de €157 para €384 (aumento de 145%), de 2017 a 2022. Já a empresa inglesa Bordeaux Index reporta que no mesmo período os vinhos tops da Borgonha subiram em média 56% e arrefeceram entre 5% e 10% em 2023. Afirma, entretanto, que a tendência não é de baixa. Em 2017-2018 houve um grande aumento de preços, muitos pensaram tratar-se de uma bolha, mas entre 2021 e 2022 os preços subiram novamente. Apesar desse pequeno alívio em 2023, prevê que a tendência de alta deve retornar, pois as condições de desequilíbrio entre oferta e demanda persistem.

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