
Bruno Vianna DipWSET .
Publicação no International Forum
of Allergy and Rhinology e estudos em andamento em New Orleans sugerem que sim!
Um teste simples está sendo usado para prever a
vulnerabilidade de cada indivíduo à doença.
Em novembro de 2020, o Dr. Henry Barham, rinologista no
Baton Rouge General Medical Center, de New Orleans, publicou um trabalho científico inédito envolvendo 100
pacientes com COVID-19, que foram classificados em 3 grupos: nontasters/não-degustadores
(21%), tasters/degustadores (79%) e super-tasters/super-degustadores
(0%), conforme a capacidade de discriminar sabores amargos impregnados em tiras
de papel. 100% dos não-degustadores apresentaram sintomas severos, necessitando
internação. 100% dos degustadores apresentaram sintomas leves a moderados que
dispensavam internação. E nenhum super-degustador foi encontrado entre os
pacientes com COVID-19. Segundo o Dr. Barham, isso pode ser uma evidência de
que o grupo de super-degustadores tem propensão a ser assintomático ou não
contrair a doença, mas o experimento não permite esta conclusão, pois a doença
pode ter alterado a sensibilidade dos pacientes. Sua equipe médica iniciou
então um segundo experimento com 5.000 pessoas não infectadas, sendo 25% não-degustadores,
50% degustadores e 25% super-degustadores, percentagens representativas da população
americana. O estudo ainda não foi concluído, mas vem confirmando que os não-degustadores
estão sofrendo os casos mais severos de coronavírus, enquanto os
super-degustadores não apresentaram casos com sintomas.
O estudo provê evidências de que a resposta de um dos 25
tipos de receptor de sabores amargos, controlado pelo gene TAS2R38, guarda
correlação com a COVID-19. De fato, já foi demonstrado que, além de detectar amargor,
estes receptores participam da nossa imunidade inata e estão presentes em células
de outros órgãos, inclusive no epitélio sinonasal, onde constituem uma primeira
linha de defesa nas vias aéreas superiores, que são vulneráveis à penetração de
micro-organismos e substâncias tóxicas ou irritantes. Através do nervo
trigêmeo, provocam reações de defesa como secreção de peptídeos antimicrobiais,
liberação de óxido nítrico e redução da taxa respiratória.
A classificação de degustadores em 3 categorias vem da
década de 1980, em estudos sobre a variabilidade genética da percepção de
sabores amargos, em especial nas diferenças de percepção dos compostos PTC e PROP.
A variabilidade de percepção é resultado de um único gene (TAS2R38), que causa
a produção de uma proteína G, a qual se liga aos compostos e provoca a sensação
amarga. Os super-degustadores possuem nesse gen dois alelos iguais (PAV/PAV) e experimentam
uma sensação fortemente amarga e desagradável, ao passo que os não-degustadores
possuem os alelos (AVI/AVI), não percebendo nenhum sabor, por não sintetizar a
proteína. Aproximadamente 50% da população tem um alelo de cada (PAV/AVI) e percebe
um amargor bem menor e suportável: são os degustadores. Os super-degustadores
normalmente não toleram alimentos amargos e têm muita dificuldade com vegetais como
couve, couve-flor, couve-de-bruxelas, nabo, grapefruit, chá verde, água com
gás, alcaçuz, anis e cigarro, necessitando força de vontade
para incorporar uma dieta saudável. Costumam também adicionar mais sal e açúcar
para mascarar os sabores amargos dos alimentos e há estudos que apontam
também maior sensibilidade a estes sabores. Alguns pesquisadores sugerem também
que essas categorias têm relação direta com a quantidade de papilas fungiformes
da língua, que podem ser examinadas e contadas a olho nu para verificar a
categoria de cada indivíduo, o que é um tipo de teste mais simples de realizar
que o genético ou o das tiras de papel.
REFERÊNCIAS
1. Barham HP, Taha MA and Hal CA “Does phenotypic
expression of bitter taste receptor T2R38 show association with COVID-19 severity?”,
Intl Forum Allergy Rhinol. 2020. onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/alr.22692
2. Andrea Gallo. “Are you a 'super
taster'? Louisiana doctor suspects that may protect you from severe coronavirus”,
The Advocate, www.theadvocate.com/baton_rouge/news/article_91a264b4-f84b-11ea-97d5-5b447c690518.html
3. Tizzano M, Gulbransen BD, Vandenbeuch A,
et al. “Nasal
chemosensory cells use bitter taste signaling to detect irritants and bacterial
signals”, Proc Natl Acad Sci USA. 2010;107:3210e3215. www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2840287/
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