Degustadores estão mais protegidos da COVID-19?
Degustadores estão mais protegidos da COVID-19?
05/02/2021

Bruno Vianna DipWSET      .

Publicação no International Forum of Allergy and Rhinology e estudos em andamento em New Orleans sugerem que sim!

Um teste simples está sendo usado para prever a vulnerabilidade de cada indivíduo à doença.

Em novembro de 2020, o Dr. Henry Barham, rinologista no Baton Rouge General Medical Center, de New Orleans, publicou um trabalho científico inédito envolvendo 100 pacientes com COVID-19, que foram classificados em 3 grupos: nontasters/não-degustadores (21%), tasters/degustadores (79%) e super-tasters/super-degustadores (0%), conforme a capacidade de discriminar sabores amargos impregnados em tiras de papel. 100% dos não-degustadores apresentaram sintomas severos, necessitando internação. 100% dos degustadores apresentaram sintomas leves a moderados que dispensavam internação. E nenhum super-degustador foi encontrado entre os pacientes com COVID-19. Segundo o Dr. Barham, isso pode ser uma evidência de que o grupo de super-degustadores tem propensão a ser assintomático ou não contrair a doença, mas o experimento não permite esta conclusão, pois a doença pode ter alterado a sensibilidade dos pacientes. Sua equipe médica iniciou então um segundo experimento com 5.000 pessoas não infectadas, sendo 25% não-degustadores, 50% degustadores e 25% super-degustadores, percentagens representativas da população americana. O estudo ainda não foi concluído, mas vem confirmando que os não-degustadores estão sofrendo os casos mais severos de coronavírus, enquanto os super-degustadores não apresentaram casos com sintomas.

O estudo provê evidências de que a resposta de um dos 25 tipos de receptor de sabores amargos, controlado pelo gene TAS2R38, guarda correlação com a COVID-19. De fato, já foi demonstrado que, além de detectar amargor, estes receptores participam da nossa imunidade inata e estão presentes em células de outros órgãos, inclusive no epitélio sinonasal, onde constituem uma primeira linha de defesa nas vias aéreas superiores, que são vulneráveis à penetração de micro-organismos e substâncias tóxicas ou irritantes. Através do nervo trigêmeo, provocam reações de defesa como secreção de peptídeos antimicrobiais, liberação de óxido nítrico e redução da taxa respiratória.

A classificação de degustadores em 3 categorias vem da década de 1980, em estudos sobre a variabilidade genética da percepção de sabores amargos, em especial nas diferenças de percepção dos compostos PTC e PROP. A variabilidade de percepção é resultado de um único gene (TAS2R38), que causa a produção de uma proteína G, a qual se liga aos compostos e provoca a sensação amarga. Os super-degustadores possuem nesse gen dois alelos iguais (PAV/PAV) e experimentam uma sensação fortemente amarga e desagradável, ao passo que os não-degustadores possuem os alelos (AVI/AVI), não percebendo nenhum sabor, por não sintetizar a proteína. Aproximadamente 50% da população tem um alelo de cada (PAV/AVI) e percebe um amargor bem menor e suportável: são os degustadores. Os super-degustadores normalmente não toleram alimentos amargos e têm muita dificuldade com vegetais como couve, couve-flor, couve-de-bruxelas, nabo, grapefruit, chá verde, água com gás, alcaçuz, anis e cigarro, necessitando força de vontade para incorporar uma dieta saudável. Costumam também adicionar mais sal e açúcar para mascarar os sabores amargos dos alimentos e há estudos que apontam também maior sensibilidade a estes sabores. Alguns pesquisadores sugerem também que essas categorias têm relação direta com a quantidade de papilas fungiformes da língua, que podem ser examinadas e contadas a olho nu para verificar a categoria de cada indivíduo, o que é um tipo de teste mais simples de realizar que o genético ou o das tiras de papel.

REFERÊNCIAS

1.       Barham HP, Taha MA and Hal CA “Does phenotypic expression of bitter taste receptor T2R38 show association with COVID-19 severity?”, Intl Forum Allergy Rhinol. 2020. onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1002/alr.22692

2.       Andrea Gallo. “Are you a 'super taster'? Louisiana doctor suspects that may protect you from severe coronavirus”, The Advocate, www.theadvocate.com/baton_rouge/news/article_91a264b4-f84b-11ea-97d5-5b447c690518.html

3.       Tizzano M, Gulbransen BD, Vandenbeuch A, et al. “Nasal chemosensory cells use bitter taste signaling to detect irritants and bacterial signals”, Proc Natl Acad Sci USA. 2010;107:3210e3215. www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2840287/

 

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